Bloco Rural Caravana Andaluza- Tracunhaém

Neste episódio, você vai conhecer mais um Patrimônio Cultural da Mata Norte. Trata-se do Bloco Rural Caravana Andaluza, tradição de origem dos antigos engenhos de cana de açúcar, que se apresenta no carnaval da zona da mata. Em 2023, o Andaluza completa 60 anos de história, inclusive, recentemente lançaram um livro. O grupo, que encontra-se na terceira geração de brincantes, é Ponto de Cultura. Além disso, atua com ações de preservação, salvaguarda e memória da cultura popular.  Para saber mais sobre esse rico Patrimônio Imaterial pernambucano é só apertar o play.

ROTEIRO – 3 – BLOCO RURAL CARAVANA ANDALUZA – TRACUNHAÉM

Josi Marinho  – Este projeto é realizado com o incentivo do Funcultura,    Fundarpe,   Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco.

Valdilene Francisca de Souza –  “espero que o dia que eu vá embora, vocês não acabem”. Na época quando o vovô falava para os meninos cuidarem: ‘eu quero essa responsabilidade nada.” Mas aí quando o vovô faleceu, eu disse: ‘não, eu vou insistir’. Aí saí arrastando meu pai, saí arrastando meus tios. Todo mundo vai se envolver. ‘A gente não vai deixar se acabar não’.

Josi Marinho A gente gosta mesmo é de uma boa história de família. E é assim que essa começa. Foi seu Luiz Francisco de Souza, mais conhecido como Luiz Maquinista, que fundou um bloco rural sinônimo de resistência. Na década de 1990 esses blocos eram comuns. Hoje é raridade. Estamos falando do Bloco Rural Caravana Andaluza. Ajusta o fone e viaja com a gente nessa história.

Josi Marinho – Eu sou a jornalista Josi Marinho. Mulher negra, produtora cultural e realizadora desse projeto.

Cris Xavier – E eu sou Cris Xavier, mulher negra e produtora cultural.  Este podcast conta com recursos de audiodescrição, importante para contar histórias para pessoas com deficiência.  Então, sempre que você ouvir este som (toque de campainha) você também vai ouvir minha voz descrevendo algo importante do nosso episódio. 

Josi Marinho  – a gente te convida a pegar a estrada rumo a Tracunhaém,   cidade que fica na Zona da Mata Norte de Pernambuco, há mais de 60 quilômetros do Recife.  Você deve conhecer Tracunhaém como a terra do barro.  É que mais da metade dos moradores vive direta ou indiretamente do barro, da produção de cerâmica, peças utilitárias e obras de arte, tudo feito com barro.   Mas, as terras do município foram berço para o Bloco Rural Caravana Andaluza.  ‘Rural’ porque ele nasceu no engenho.  Foi em três de setembro de 1963.  E aqui vai a primeira curiosidade do nosso episódio.  O bloco foi testemunha da criação do próprio município. Tracunhaém foi vila, distrito de Nazaré da Mata e só em dezembro de 1963 foi elevada a categoria de município.  Três meses antes, Luiz Maquinista e dois amigos, Deca Emiliano e Zé Baeta, fundavam o Andaluza. 

Josi Marinho – Temos um endereço certo. A gente bate na porta do número 64, na Rua Presidente Castelo Branco, no centro de Tracunhaém.  É a sede do Ponto de Cultura Andaluza. Quem nos recebe é Valdilene, neta de Luiz Maquinista. É ela quem vai nos contar da aventura do avô e de como a família mantém vivos o legado dele e a tradição do bloco rural, cada vez mais rara.  

Cris Xavier – Valdilene Francisca de Souza é uma mulher de 45 anos, negra, de cabelos lisos, sorridente e expressiva. Fala sempre gesticulando com as mãos. O rosto acompanha com expressões. É didática, não à toa é professora,   produtora cultural e desde os cinco anos de idade brinca na Caravana Andaluza.  Foi presidente do grupo e hoje atua com tesoureira.  

Josi Marinho – Valdinele, seja muito bem vinda. Você aqui representa um bloco que em 2023 completou 60 anos. É muita história! Queria que você voltasse no tempo com a gente, lá para 1963,  e relembrasse como essa tradição familiar surgiu. Quem foram os atores desse início? 

Valdilene Francisca de Souza – “Vovô ele trabalhava no engenho, trabalhava na questão da fazer mel, açúcar. Depois ele passou a trabalhar na Casa Grande do Engenho, tomando conta, administrando. Assim, participam filhos, netos, irmãos, sobrinhos. A tradição foi essa, né? Sempre foi essa de Neto, sobrinho, filho, irmão e a gente tá continuando do mesmo jeito. Tem outras pessoas participando, mas aí a maioria tem a ver com pessoas da nossa família mesmo”.

Cris Xavier – Um engenho é uma instalação industrial que geralmente ocupa muitas terras na zona da mata. Nesse local a cana-de-açúcar é plantada,    colhida,  triturada, processada, fervida até que o açúcar seja extraído. Também são produzidos melaço e álcool. O Engenho Abreus desempenhou muito bem esse papel. Ele fica na zona rural de Tracunhaém.  

Josi Marinho – Outra curiosidade, como vocês já devem ter notado, o bloco foi criado pelo povo e não pelos donos do engenho.  Na época era comum os donos da terra criarem blocos.  O Andaluza fugiu a essa regra. Mas com o passar dos anos, a tradição foi ficando no passado. Muito disso está na conta do êxodo rural. As pessoas foram abandonando os engenhos e a zona rural e se mudando para a cidade. Como muitos outros, o Engenho Abreus também precisou se adaptar aos tempos modernos. A evolução das máquinas, o transporte ferroviário,  as rodovias, influenciaram na rotina de trabalho do engenho. 

Valdilene Francisca de Souza – “Antigamente tinham os moinhos de fazer açúcar, fazer melaço, que era onde meu avô participava da caldeira, essas coisas todas. Aí depois disso parou e ficou com criação de gados, produção de cana. Aí hoje é basicamente isso, produção de cana e criação de gado”.

Josi Marinho – Daí vem o nome “rural”, porque o bloco foi criado na zona rural. Canavieiros que precisavam de alguma diversão decidiram criar a brincadeira. Quer mais uma curiosidade? O bloco foi praticamente criado sob um baobá, possivelmente plantado há muuuito tempo por escravos que moravam por ali. Eles plantavam essa árvore para lembrar da terra natal. 

Cris Xavier – O baobá é uma árvore tropical fascinante, nativa de várias regiões da África, Madagascar e Austrália. Tem uma importância cultural enorme. O tronco do baobá é beeem inchado, longo e ainda armazena água.  Assim ele sobrevive em regiões áridas. Os galhos ficam lá no alto e são pequenos. A árvore tem uma casca grossa e pode ser vista de longe. As folhas parecem como a palma de uma mão. O crescimento dele é lento e pode levar até 10 anos para atingir o estágio de muda. A árvore é costumeiramente chamada de “árvore da vida”, porque pode viver por milhares de ano.  

Josi Marinho –  Mas eu aposto que vocês também estão curiosos para saber o que significa o nome “Andaluza”?

Valdilene Francisca de Souza –  “É sim, ele foi fundado no engenho. Engenho Abreus. O nome surgiu de… foi uma ideia das senhoras que moravam lá no engenho. Como elas viajavam muito, aí elas viajaram para uma cidade chamada… Argélia e lá quando elas chegaram,  o pessoal lá da palestra que ela estavam participando, referente à escola que elas frequentavam, falaram: ‘chegaram as andaluzas’. E esse nome, quando ela voltou, ela conversando com meu avô, aí ela disse: ‘eu já tenho um nome para o bloco’. Aí foi quando confeccionou o primeiro estandarte, foi tudo doado por ela, pelo pessoal que era dono do Engenho. Fizeram o estandarte, ajudaram a comprar as fantasias, os instrumentos”.

Cris Xavier – Estandarte é um tipo de bandeira frequentemente usado como símbolo de uma organização ou grupo.  Eles chamam atenção pelas cores, formatos e símbolos.  O estandarte do Andaluza é vermelho e amarelo.  Tem uma boneca branca, vestida de amarelo quase dourado, ao meio e brilha bastante.  Ele ostenta e sustenta o nome do bloco rural.  

Josi Marinho  – E de onde veio o nome “caravana”? 

Valdilene Francisca de Souza –  “Aí depois disso meu avô foi quem continuou. Ele começava a fazer rifa, pedir ajuda de um, ajuda de outro. Eles não visitavam assim os locais, né? Era só um município e visitar os Engenho ao redor do Engenho Abreus, e isso eles iam a pé. Ele saiu visitando cada Engenho a pé e por aí se transformava em andarilhos, o Carnaval. Saiam visitando os engenheiros e cada Engenho aqui na área tinha um bloco. Onde também saia de engenho em engenho”.

Josi Marinho – O Caravana Andaluza é o único bloco rural que ainda está ativo em Tracunhaém.  E aí, eu te convido para um exercício de imaginação. A gente sai da sede do bloco, no centro do município, e pega a estrada rumo ao Engenho Abreus.  São cinco quilômetros até chegar onde tudo começou. Vamos tentar reconstruir a formação do grupo na época de Luiz Maquinista, que segue a mesma configuração até hoje.  São mais ou menos 50 pessoas envolvidas na brincadeira.  O mais novo tem seis anos de idade e o mais velho 68.  A maioria parentes.

Valdilene Francisca de Souza –  “Por que aí é tio, é primo, é sobrinho, é cunhado.  A formação é… nós temos uma na frente a burra, catita, temos os baliseiros, que são três ou quatro homens caracterizados. São duas filas, onde ficam as meninas para que elas possam fazer as evoluções. Temos o nosso estandarte, que tem o nosso bandeirista. Tem a percussão, que são os meninos do tarol, que é o terno, os músicos, os metais. E temos também a Dama de passo, que a gente aqui diz que é a menina da boneca, que no Maracatu já é diferente.  E temos a nossa corte, que é um rei e uma rainha e sempre a gente coloca uns pequenos”.

Cris Xavier – Burra,   catita,   baliseiros,   dama do passo… são personagens de várias manifestações culturais populares do Nordeste, como o maracatu, por exemplo.  Eles seguem e muitas vezes puxam os blocos.  

Josi Marinho – Essa formação é uma característica de todos os blocos rurais ou é uma marca do Andaluza? 

Valdilene Francisca de Souza –  “A nossa sempre foi dessa forma. Quando vovô começou quem brincava com a boneca era um menino. Aí depois ele foi e colocou uma menina”.  

Josi Marinho – Isso foi por quanto tempo?  

Valdilene Francisca de Souza –  “Eu acho que na faixa de dois anos. Aí depois ele já colocou uma filha dele, aí depois já colocou uma sobrinha, aí depois quando eu comecei brincando, aí eu fiquei assumindo o papel da Dama de passo”.

Cris Xavier – A dama do paço é a responsável por segurar e carregar durante toda a apresentação a calunga, uma boneca cheia de adornos que é uma figura mística, rodeada de mistérios. A calunga contém espiritualidade,  ancestralidade e abre os caminhos para o cortejo. Em algumas tradições apenas uma pessoa, a dama do paço, pode tocar na boneca.  

Josi Marinho  – A dama do paço é uma figura marcante no maracatu rural, por exemplo. Existe muito mistério ao entorno dela. Ela encanta quem assiste as apresentações, mas para quem brinca, o que ela representa? 

Valdilene Francisca de Souza –  “A nossa dama de passo é a nossa proteção ali… é o nosso respeito. Eu acho que é isso que ela traz pra gente ali dentro do grupo. E assim sempre vovô dizia ‘você tem que sempre entregar a boneca para uma criança calma, tranquila e que não seja muito afobada’…  ele sempre falava isso, né? Aí a gente sempre procura buscar isso aí”. 

Josi Marinho – É a magia da brincadeira que precisa ser preservada! 

Valdilene Francisca de Souza –  “Exatamente. Aí a gente sempre busca essa magia de procurar aquela criança que a gente vê que ela é bem centrada, que não seja agitada, para que nada de diferente aconteça ali no momento”.

Josi Marinho – Você assumiu o papel da dama do paço.  Descreve pra gente como você se sente em cada apresentação.  O que isso significa pra você? 

Valdilene Francisca de Souza –  “É diferenciado, porque assim, a gente tá buscando ali, a gente sei lá, é como… é uma emoção muito forte, quando você entra ali se modifica totalmente. Porque ali você tá indo buscar uma cultura. É como se a cultura tivesse entrando ali em você e você tivesse ali passando tudo aquilo através do seu dançar, do seu do seu agir, você tá transmitindo tudo”.

Josi Marinho – Você fala muito de crianças e da participação delas no bloco.  Fico pensando aqui na importância de incluir os pequenos no meio cultural. A gente está num tempo onde os interesses são outros. A tecnologia, que não deixa de ser uma aliada,  muitas vezes afasta as crianças do meio cultural. Você acha que elas são conscientes desse papel político e social de manter essa tradição viva?  

Valdilene Francisca de Souza –  – “Eu creio que sim, porque assim… as pessoas dizem assim: ‘porque vocês trazem muita criança?’ A gente traz as crianças porque é dali que a gente vai ter.. quando ele for crescendo mais ele vai continuar ali. A gente tá ali mostrando a ele a cultura, como é que é… Tá incentivando ele a se envolver na cultura e ele já vai crescendo ali com aquela mentalidade de que a cultura não pode se acabar. A gente tem que continuar batalhando para cada vez mais a gente ir  agregando mais conhecimento e aumentando o valor que a cultura tem para o nosso estado, né?”.

Josi Marinho E como é a aceitação da comunidade no geral? As pessoas valorizam? Gostam de participar? 

Valdilene Francisca de Souza –  “É sempre assim… aqueles que estão ali participando sempre vão trazendo mais um. Eu sempre faço assim … ‘hoje a gente está precisando, a gente vai se organizar para fazer o cadastro para o Carnaval’. Aí antes de chegar, quando chega o mês de dezembro, já tá ligando. ‘E aí como é… a gente vai brincar?’ Aí eu digo: ‘vamos marcar’. Aí quando chega ó … ‘eu já tenho uma amiga, eu já tenho uma prima, eu já tenho uma irmã’… é sempre dessa forma. Aí eu assim, eu quase não saio atrás para ir buscar, porque aqueles que já estão aqui já vem, já traz outra pessoa. Aí vamos brincar. É bom, é interessante, o trabalho das meninas com a gente… Assim, eu trato muito assim, a gente aqui é uma família. Independente se você é meu primo, é meu sobrinho, meu filho… a gente aqui é uma família. A gente passa três dias juntos. É tão assim que os pais eles chegam aqui no domingo, só vêm pegar a noite… quando eu chego aí eu ligo: ‘cheguei’. Aí eles vêm buscar e quando não vêm, aí tem os meninos para ir deixar nas casas. E no outro dia do mesmo jeito. Vem deixar aqui… é como não tivesse filho. A responsabilidade é Nossa e a gente passa os três dias e não se preocupa, porque assim, eles obedecem, eles respeitam. Não tem isso de estar com mau-criação, essas coisas todas. Porque as crianças hoje são como são né. Mas aí a gente não tem não se preocupa com eles”.

Josi Marinho – A gente vê o brilho nos olhos quando você fala do bloco.  Dá pra perceber que você, sua família, são apaixonados por esse trabalho. E porque não dizer “por essa missão”. Manter vivo o legado do seu avô e manter a cultura ativa. 

Valdilene Francisca de Souza – “Eu comecei brincando com cinco anos. Aí passei 14 anos brincando. Aí depois passei a só acompanhar com meu avô ajudando ele no que precisava e eu fiquei só acompanhando. Após ele falecer, a gente passou um ano, dois anos, mais ou menos, sem se apresentar, onde a gente começou a organizar a documentação que ficou, os atrasados de débitos, né? Aí a gente foi resolver toda essa questão e a gente decidiu se organizar. Os primos eu saí reunindo primos, tios. A gente decidiu voltar para não acabar, porque sempre meu avô falava assim: “espero que um dia que eu vá embora, vocês não acabem” e isso a gente trouxe para nossa vida, e a gente tá aqui dando continuidade. Tá sendo muito gratificante pra gente, porque depois que eu comecei tomando conta de tudo aquilo que ele sonhava em realizar quando ele tava, ele não conseguiu, mas aí a gente tá conseguindo realizar aos pouquinhos, mas a gente vai realizando”.

Josi Marinho – E como é lidar com essa relação família e brincadeira popular?  

Valdilene Francisca de Souza –  “É bom que a gente passa o carnaval todo mundo junto. É divertido, porque assim, quase a gente não se encontra. Aí pronto … Tá todo mundo junto ali, aí passa o carnaval todinho”.

Josi Marinho – Deve ser incrível mesmo! Uma brincadeira que surgiu lá atrás… há 60 anos,  uniu amigos, colegas de trabalho e principalmente uma família. Uma tradição que ultrapassa quantas gerações? Quatro? Seu avô, seus pais, você e agora seus filhos? Certo? 

Valdilene Francisca de Souza – “ Sim. Tenho dois filhos Arthur e Alan. Arthur tá com 13 anos e Alan tá com 10, São tudo do mês de dezembro. Quando Eles nasceram faltava um mês para o carnaval. Já vamos embora, porque eu não posso deixar o grupo. Na época, eu estava como presidente, eu acho. Vai ter que ir, eu não vou deixar o grupo só e tem que ir. Aí já estava entrando no meio e logo quando foram crescendo… Arthur começou brincando com o rei. Ele é o nosso rei hoje, vem brincando desde os 5 anos. E Alan, ele começou também. Brincou de caboclo, inventou de sair de caboclo, disse ‘eu vou de caboclo atrás do Andaluza, faça minha gola que eu vou com a catita e bula’… e foi embora pequenininho e no meio. E hoje ele brinca de palhaço, que nós temos o palhaço. Aí também como ele tem um problema na perna, a gente não deixa muito ele tá brincando. Mas ele cisma, porque ele disse que é ele quem vai cuidar, então ele tem que tá brincando. ‘Sou eu, quando você for embora daqui, quem vai cuidar sou eu,’ ele diz”.

Josi Marinho  – É importante demais esse sentimento de querer dar continuidade a um trabalho tão lindo! Tomo a liberdade de dizer que os fundadores,  estão orgulhosos.

Valdilene Francisca de Souza –  “E fico muito feliz, porque assim… na época quando o vovô falava para os meninos cuidarem, as meninas: ‘Oxe eu quero essa responsabilidade’… meus tios e até meu pai … ‘eu quero essa responsabilidade em nada. Eu vejo o senhor aí, quando chega, termina o carnaval tá aí com dor de cabeça, fica doente preocupado. Eu quero essa responsabilidade para mim não’, mas aí quando o vovô faleceu, eu disse ‘não, eu vou insistir’. Aí saí arrastando meu pai, sai arrastando meus tios. Todo mundo vai se envolver. ‘A gente não vai deixar se acabar não’. Aí ele começou a se envolver. Ele agora diz assim para os meninos: ‘eu agora só faço gastar. Não vou estar atrás’. Aí já vai fazer dois anos que ele teve AVC. Aí ele não participa, mas ainda vem aqui dar uma ordem, Ainda vem aqui reclamar: ‘ó, está errado. Não é dessa forma não. Por que vocês estão fazendo assim?’ Ai os meninos fazem:  ‘mas tu não dissesse que não ia se envolver mais’…. mas não consegue. Não consegue ficar em casa, aí vem embora”.

Josi Marinho  – Vamos falar um pouco sobre a caracterização do grupo? A gente sempre passa uma mensagem através de roupas, cores,   comportamentos.  Pra quem nunca viu uma apresentação do caravana andaluza, algumas cores se sobressaem:  o vermelho e o amarelo. A gente já falou aqui da formação do grupo…  na frente os personagens, os baliseiros, as passistas…  mas no meio algo bem imponente chama atenção. Um estandarte…  e tudo é confeccionado por vocês, que eu já fiquei sabendo. Esse embelezamento visual é super importante…  o colorido…   o brilho…

Valdilene Francisca de Souza –  “Se você sempre observar, a gente vai estar sempre no vermelho e no Amarelo. Até o nosso estandarte ele é vermelho com amarelo. A gente tentou modificar. Mas aí todo mundo achou estranho. A gente modificou estandarte um ano e todo mundo ‘não nada a ver. Cadê o vermelho? Cadê o amarelo?’ Já tem aquela coisa, até as pessoas… ‘Cadê o vermelho?’ Mas tá nas roupas. Já é uma coisa que vem desde de lá do início. Foi a cor que eles determinaram, vermelho e amarelo, e permaneceu no vermelho e amarelo. Sempre acontece de ter alguma coisa diferente no meio, mas aí é uma coisa mais, como é que eu posso te falar, tem a ver com a espiritualidade do momento”.

Josi Marinho  – Mais uma decisão que foi tomada há 60 anos e perdura até hoje. Que mensagem eles queriam passar quando definiram as cores amarelo e vermelho? 

Valdilene Francisca de Souza –  “Eu acho que, no momento que eles definiram isso, era como se fosse um momento de: ‘‘o amarelo significava Vitória, alguma coisa desse tipo, e o vermelho era por conta das lutas que aconteceram naquele momento’, e eles optaram pelo vermelho, por isso. Eu creio que foi o pensamento quando vovô definiu essas cores com o pessoal”.

Josi Marinho – No centro da bandeira de vocês tem uma boneca. Se a gente for comparar com o maracatu, geralmente é um leão. Por que a escolha da boneca? 

Valdilene Francisca de Souza – “ É porque como o bloco da gente é feminino…Não basicamente né? Porque tem os homens também, mas a maioria é meninas. Aí é o que a boneca representa no centro da nossa bandeira. A gente tenta sempre buscar uma boneca parecida com o que a gente tinha. Porque a gente tem a nossa primeira boneca que andava com vovô. Ela saia os três dias de carnaval, aí ela fica aqui na sede. A gente não anda com ela”.

Josi Marinho  – Você contou que o bloco Andaluza tem participação maior das mulheres. E a gente fala de um espaço geográfico: a zona da mata,   historicamente marcado pelo machismo. O berço do desenvolvimento da economia baseada na cana-de-açúcar. Os senhores de engenho. O trabalho pesado no corte da cana. Tudo isso, de alguma forma, influenciou para o escanteamento das mulheres no trabalho e nas tradições. Vocês sentem ou sentiram em algum momento o preconceito? 

Valdilene Francisca de Souza –  “É um pouco preconceituoso, mas a gente tenta mostrar um lado diferente, né? Que a gente pode participar, a gente pode brincar, a gente pode fazer tudo aquilo que a gente tem vontade. Porque assim, se você observasse antes, nenhuma mulher poderia assumir a Diretoria de uma agremiação. Eram sempre os homens que tavam ali assumindo um Maracatu, um bloco, o que fosse, um caboclinho. Mas hoje não, hoje a gente já tem uma visão diferente. Hoje a gente já vê as mulheres assumindo, aquela responsabilidade, aquela preocupação, aquela despesa. Porque no final, ou a gente trabalha para ter, no final das contas um resultado onde a gente vai poder estar ajudando todas aquelas pessoas que estão ali com a gente, ou não vai levar a lugar nenhum. Acaba acontecendo… ficando para trás, como muitos dos grupos que não tiveram condições de estar levando a frente e foram se acabando, né? E a gente assim, a gente ainda tá porque tem aquela coisa assim, ‘você me ajuda” Aí tem painho que quando estou precisando para comprar isso, estou precisando para fazer aquilo…É quem me socorre. Eu digo vá, eu preciso para fazer lá. Mas aí é mais envolvido mulher. No grupo da gente tá mais mulher no momento”.

Josi Marinho  – Literalmente é um exemplo de resistência. Na década de 1990 eram cerca de 30 blocos rurais espalhados pelo estado. Hoje três resistem na região da zona da mata. O Andaluza é o único em Tracunhaém.  

Valdilene Francisca de Souza –  “Eu acho que a gente fica como se fosse resistência… porque assim. A gente tá ali persistindo. Porque muitas vezes as pessoas não dão valor a  nossa Cultura, né? Se você for observar direitinho, a gente é quase como se fosse esquecido. A gente tenta buscar, mostrar e assim … a gente fica observando que muitas vezes a gente não vai para uma apresentação porque é um bloco. As pessoas acham que é um bloco … o nosso bloco é esses blocos que acontecem nas cidades. Só que não, é diferente. A gente tem a história diferente, tudo é diferente. Aí eu acho que o que nos coisa é a resistência da gente mesmo, a resistência, persistência”.

Josi Marinho – Valdilene,  noto você emocionada ao tratar desse tema,  falar das dificuldades e preconceitos. Imagino o quanto vocês já enfrentaram durante essas décadas. Você já se viu vítima de preconceito dentro do universo cultural? 

 Valdilene Francisca de Souza –  “A gente ficava meio desacreditado de tudo realmente . A gente tem aquela questão assim: ‘bloco Rural que é isso? Como é?’ Eu já tive ocasião de eu ir me inscrever num determinado local e lá eles me pedirem para eu modificar, para eu poder ter que participar de concurso, dessas coisas. Eu disse: ‘não, se você quiser que eu brinque aqui, vai ser do jeito que eu sou, mas eu modificar para ter que vir para aqui, eu não vou fazer isso’. Eu modificar para ter que participar de um concurso, de participar de alguma coisa, eu não faço isso. Vou continuar do jeito que eu sou, se quiser me receber dessa forma, você me recebe, se não, não tem problema”.

Josi Marinho – A identidade cultural de um povo ninguém tira. E é isso que vemos aqui. A promoção dessa cultura tem um papel crucial no fortalecimento social e econômico da sociedade. Sem contar com os impactos positivos no turismo e principalmente na educação. Baseado nessa política pública cultural, o Bloco Rural Caravana Andaluza do Engenho Abreus virou Ponto de Cultura.  

Cris Xavier – Ser ponto de cultura é um reconhecimento por parte do Ministério da Cidadania. O grupo, o coletivo, a entidade com finalidade cultural precisa desenvolver e articular atividades em comunidades.  Precisa ser agente de transformação social e do território. O ponto de cultura recebe um apoio financeiro e institucional, por parte do país. 

Josi Marinho – Virar ponto de cultura foi um marco na história do bloco. O que começou como uma brincadeira mudou a rotina e realidade da comunidade. 

Valdilene Francisca de Souza –  “Assim, em partes é bom porque a gente pode estar fazendo um trabalho diretamente, tá diretamente com eles, né? Porque quando a gente não tinha esse recurso do ponto de cultura, a gente não podia estar com eles direto aqui para tá fazendo uma aula de um bordado, uma aula de e costura. Até mesmo tá usando os computadores. A gente não poderia, porque a gente não tinha como tá mantendo, tá ali, ter os materiais para compra. A gente só se juntava quando era para confeccionar as fantasias, quando era um mês antes. É sempre assim, sempre atrasada, é um mês antes do carnaval que a gente começa a fazer as fantasias.  E assim já teve momento de a gente fazer uma fantasia, aí a gente teve uma apresentação na semana pré, quando a gente volta na sexta-feira, já o carnaval no domingo, chegar na sexta-feira e a gente diz assim: ‘essa roupa não tem brilho.’ O brilho que a gente esperava não tá, e a gente tem que fazer até o Domingo de carnaval,  restando somente à sexta e sábado. Às vezes já teve momento de ser assim. E aí todo mundo… não ficou só ali só a costureira, foi todo mundo, se juntou todo mundo, até quem não tinha nada a ver veio para o grupo. A gente passou sexta, sábado e na hora da brincadeira sair, a gente terminando aqui de dar os avisos finais, mas a gente conseguiu fazer aquilo que a gente queria”.

Josi Marinho – Sabe uma pauta muito importante e que a gente percebe ela presente no seu discurso (?): a educação cultural. A Organização das Nações Unidas – ONU – tem uma agenda para o desenvolvimento sustentável do mundo até 2030. São diversas metas e medidas que devem, ou que deveriam ser tomadas. Entre elas está a compreensão intercultural, o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural do mundo, além do fortalecimento, proteção e salvaguarda do patrimônio cultural do planeta. O que vocês têm feito para levar essa cultura para mais e mais pessoas e preservar essas tradições? 

Valdilene Francisca de Souza –  “A gente fez algumas aulas-espetáculo. Onde a gente foi levar um pouco do conhecimento daqui para as escolas. Onde a gente apresentou a história de quando surgiu, para que mais pessoas conhecessem. Porque assim, eles moram aqui, sabem que existe o bloco, sabem como brinca, mas não conheciam a real história.  Aí a gente fez aulas-espetáculos nas escolas do município e escolas do estado também. Aí a gente fez essas apresentações de como surgiu, a história no geral, e após a história a gente fez uma apresentação do grupo, onde o grupo fez a dança, mostrou a dança, como eles faziam, todos os caracterizados”.

Josi Marinho – Existe alguma regra,  algum pré-requisito,  experiência para participar do Andaluza? 

Valdilene Francisca de Souza –  “Não, a gente não tem assim nenhuma regra que diga assim: ‘Ó, você só pode brincar se tiver isso’. Não, todas as crianças e adolescentes que chegam pra gente ‘eu quero fazer parte do grupo’, certo, a gente aceita. A única coisa que a gente pede é o respeito, porque assim, é o que a gente mais trabalha. Um respeitar o outro. Na medida que a gente está participando de um grupo, a gente tem que saber o momento da gente falar, da gente se expressar. Não tá atropelando a fala do outro, tá ali, observar, participar, mas com aquela coisa assim de ter o respeito e a responsabilidade. Eu acho que isso é o principal para nós a gente não tem uma regra Básica para poder participar não”.

Josi Marinho – E todo esse conhecimento está exposto para o público. 

Valdilene Francisca de Souza – “Você chegando na cidade, você perguntar onde é o andaluza, aí todo mundo vai dizer assim, do lado da escola Walfredo… aí do lado da escola Walfredo  vai ter pessoas que você dizer ‘onde é o Andaluza?’ … ‘nossa bloco Andaluza?’  vai lhe dizer direitinho…”.

Josi Marinho –  O espaço também conta com os próprios estudantes,   biblioteca,  material escolar…  sem contar com as atividades. 

Valdilene Francisca de Souza –  “É corte e costura que a gente faz, Confecções das Fantasias são feitas aqui. As vezes acontece da gente fazer cursos de Estandarte”.

Josi Marinho – Curioso que mesmo com tanta tecnologia o que é feito aqui é artesanato…. O trabalho é manual, né? 

Valdilene Francisca de Souza – “É porque assim, quando a gente tá ali fazendo manualmente a gente tá… Não sei, a gente tá assim… Praticando. Além de estar praticando, a gente vai estar ali unido, porque vai estar um dando uma dica.. ‘Ó, não, não é desse jeito, vamos fazer dessa forma para ver como é que faz’. Aí a gente está fazendo de formas diferentes para ver o que vai ficar ideal para aquilo que você tá querendo. Todo mundo vem para cá. Aí precisa fazer um bordado… Vamos lá… Vamos ver se esse bordado dá certo. Aí não fica só uma pessoa, a gente sai pedindo opinião do grupo. Aí tanto dos brincantes, como da diretoria”.

Josi Marinho – E qual material é usado nessa confecção? 

Valdilene Francisca de Souza –  “A gente usa lantejoulas, usa tecidos, bicos,  bordados, Lã… são os materiais que a gente usa, emborrachados para confeccionar os adereços da cabeça”.

Josi Marinho – agora me veio uma curiosidade. Onde vocês se apresentam quando acaba o carnaval?

Valdilene Francisca de Souza –  “A gente participa de alguns eventos que acontecem: Fenearte, Festival de Inverno, Feira de artesanato no próprio município, onde a gente também está participando. A gente participa de eventos que acontecem no município, ou até mesmo em algum município que se interessa por alguma apresentação nossa, aí a gente vai”.

Josi Marinho  – Boa parte da história do Andaluza foi registrada na memória dos seus integrantes e fundadores. Uma tradição que foi repassada pela boa conversa, pela contação de causos e histórias. Mais uma vez a oralidade bem presente no nosso podcast. Esse nosso episódio não deixa de ser um registro histórico de tudo que já aconteceu, mas em fevereiro de 2023 um livro escrito pelo professor,  escritor e historiador pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE –  Severino Vicente da Silva, conhecido como Bio Vicente, eternizou no papel a história do Bloco Rural Caravana Andaluza.  O nome do bloco foi título do livro. 

Cris Xavier – Uma foto tirada de cima ilustra a capa do livro. Essa foto mostra as porteiras do Engenho Abreus. Elas estão abertas, como se dessem as boas-vindas ao leitor. Duas filas com baliseiras e personagens do bloco estão nas laterais.  Puxando as filas, de um alado a burra e do outro a catita, personagens do bloco.  No centro da capa o estandarte símbolo do bloco.  O piso do engenho é barro, um amarelo bem queimado. Essa cor predomina na capa. Na parte inferior o nome do livro em destaque e mais abaixo o nome do autor.  

Valdilene Francisca de Souza – “Eu acho que foi o que mais marcou foi esse livro. Porque ali a gente pode estar colocando a nossa história. Mais tarde quando a gente não tiver aqui, ele vai estar ali para as pessoas que estão vindo. Esse livro foi um projeto pelo Funcultura, onde a gente teve a parceria com professor Bio Vicente, que é o historiador que está lá contando toda a história, que começou desde quando o bloco foi fundado. Tem também história falando da construção da própria cidade. Foi no mesmo ano. Ele é de 20 de dezembro e a gente é de Setembro. Aí tem Contando um pouco da história do município do início, e a nossa história”.

Josi Marinho – Queremos voltar a falar de valorização. Valorização desse trabalho de vocês. Já falamos aqui do título que Tracunhaém carrega, de terra do barro. Vocês se sentem incluídos e valorizados? Esse título de alguma forma contempla vocês? 

Valdilene Francisca de Souza –  “Eu acho que Não. Porque assim, quando fala a capital do Barro vai só vivenciar o artesanato em Barro e o nosso artesanato? A gente fala muito sobre isso, né? Porque não só tem o artesanato em Barro. Tem o trabalho que a gente faz, o trabalho que o pessoal do Maracatu faz com as lantejoulas, artesanato que eles fazem. O nosso tem outros artesanatos no crochê, tem os bordados e assim eu acho que quando fala assim estava vivenciando só o artesanato em Barro. O nosso recurso, a gente só tem no carnaval. E para a gente comprar alguma coisa quando a gente precisa de algum material extra… ‘a gente vai fazer uma apresentação e tá faltando organizar alguma coisa’… aí eu recomendo meu pai. Ele é quem é a nossa sustentabilidade financeira”.

Josi Marinho – Mediante tudo isso, o que vocês buscam? 

Valdilene Francisca de Souza –  “O que a gente busca realmente é a valorização do nosso grupo. Eu acho que ainda tá… não tá aquela valorização como deveria ser. Porque se você observar a questão dos maracatus… eles são bem mais…visualmente. De qualquer forma eles são bem mais valorizados do que a gente. E como a gente é o único. Aí deveria ter um… mas é meio complicado, né? Até mesmo aqui dentro do nosso município, com os outros grupos”.

Josi Marinho  – Valdilene, nossa conversa chega ao fim… mas foi muito bom e prazeroso conhecer essa história e aprender mais sobre a cultura do nosso povo. Muito obrigada por esse bate-papo. 

Valdilene Francisca de Souza –  “Foi um prazer e estamos aqui… “.

ENCERRAMENTO

Josi Marinho  – Esse foi o terceiro episódio da temporada especial do Podcast Nossa História, Nossa Memória. Tem muita coisa boa pra gente conhecer. Mas te convidamos para mergulhar ainda mais nos assuntos tratados aqui através das nossas redes sociais. Procura lá @podcastnossahistoria no Instagram.
  

– Já no Facebook somos Podcast Nossa História, Nossa Memoria.

– Vamos adorar saber o que você achou do episódio.  

– Também estamos em todas as plataformas de áudio. Começa a seguir e a curtir. 

– Aproveita para compartilhar e comentar. E, claro, espalha esta conversa para todo mundo, manda para os amigos, vizinhos.  

– Também vale a pena ouvir os episódios das nossas temporadas anteriores,  com entrevistas com foco na proteção, preservação, conservação e salvaguarda dos patrimônios culturais de Pernambuco. Também tem uma temporada incrível sobre a história do patrimônio ferroviário de Pernambuco.  

– Ah, não esquece de passar no nosso site nossahistorianossamemoria.com.br 

– Este podcast conta com trilha sonora assinada pelo músico pernambucano João Paulo Rosa   

– O roteiro e montagem foi do jornalista Gedson Pontes.

– Audiodescrição da produtora cultural Crislaine Xavier.

– No nosso canal do Youtube, no Facebook e no Instagram, nossos episódios estão traduzidos em Libras – Língua Brasileira de Sinais pela tradutora Ewelyn Xavier   

– Gravação  e finalização: Alisson Santos

– Videomaker: Julio Melo. 

– Designer: Murilo Silva.

– Web Designer: Saulo Ferreira 

– Apresentação e Produção da Jornalista: Josi Marinho. 

– Coordenação Geral e Reportagem do Jornalista, Documentarista e Produtor Cultural: Salatiel Cícero.  

Até a próxima!!!!